texto do escritor cearense João Soares Neto , membro
da Academia Cearense de Letras , conforme descrição
que abaixo relatamos :
C R E P Ú S C U L O
Pois é . Algumas horas de voo e se tem a opção de falar inglês ou espanhol , quase sem exceção .
Eurípedes na peça Medeia disse : " Você navegou com a
alma furiosa para longe do lar paterno , ultrapassando os duplos rochedos do mar , agora habita uma terra estranha " .
É verdade . Quantas vezes venha , e nada de me sentir um nativo . As roupas , o corpo , a fala , e a cabeça mostram
que somos estranhos .
Não adianta imaginarmos o contrário , isto aqui tem dono .
Nós somos apenas usuários do superficial , do que está à mostra .
Quando muito , fazemos parte do todo , essa coisa uniforme
e que não diz absolutamente nada .
Muita gente imagina , que é uma sorte escolher onde se
quer ir .
É provável , sem esquecer nunca que a sorte nada mais é
que a capacidade de explorar as casualidades .
Estar em outro país é uma casualidade , com efeito ,
e isto nos dá a oportunidade de ter sorte , de satisfazer o
que a nossa alma e o nosso corpo aspiram .
Vejo , do barco onde estou , a pseudo tranquilidade de
tantas casas e apartamentos com seus atracadouros , muitas embarcações , e quase nenhum vivente à vista .
O ocaso prateia a água , e os respingos que molham a
minha face disfarçam uma lágrima furtiva , e , isto me faz lembrar que este dia nunca mais se repetirá .
Minha filha , faz às vezes de Capitã do barco e concluo
raso como uma lágrima , que o hoje é aqui , e , embora provisório , meu lugar é aqui pois não haverá uma segunda
oportunidade , neste momento fortuito e melancólico .
Parece como diria Jeanette Winterson , de que compro ideias , que o sol vai acutilar a água .
Sinto-me na medida dos meus enganos , com a capacidade
de ser feliz , de abraçar como se fora o vento , os que amo
estão distantes , perdidos ou encontrados do outro lado do
oceano .
Não me tomem como filósofo , pois eles , embora passionais nos seus discursos , não o são na prática da vida corrente .
Eu tenho amor e luto , com as forças que possuo , pelo
direito de ser Feliz .
Agora , este barco , esta água , o crepúsculo , o que vejo
e sinto , são o que existem , neste belo momento . . .
Não me roubem esta realidade fugidia que , mais rápida
que relâmpago , se esvaecerá , perder-se-á para Sempre . . .
J o ã o S o a r e s N e t o
Estimados amigos : Belíssimo texto de João Neto ,
escritor e poeta viajado por vários países .
Este trecho , refere-se a uma passagem pelo México ,
nação que representa como Cônsul Honorário .
Para conformar melodicamente a apresentação ,
anexamos espetacular vídeo do Youtube com canção
de Ernesto Cortazar " Deep in My Soul " .
Imagem pinçada da Internet .
A todos , desejos de Paz e Bem .
Jerônimo Sales .
Use fone de ouvido e siga link acima :
Um comentário:
Querendo ou não parecer, é sim um belo texto filosófico poético desse nobre poeta escritor, João Soares Neto. Parabéns pela sensibilidade da escolha.
Postar um comentário